A reforma do sistema de saúde americano, proposta pelo governo do atual presidente, Barack Obama, tem dado o que falar, gritar na verdade.
São centenas de "town meetings" ou audiências públicas e parte da população se mostra completamente revoltada. As discussões são intensas e os marqueteiros de plantão já dizem que Obama está perdendo essa guerra.
O que eu acho curioso é que a educação americana é pública e gratuita. Pelo menos até o ingresso na universidade, essa absurdamente cara, mesmo nas instituições ditas públicas.
Em vários casos, as escolas públicas são sinônimo de desperdício e descaso. Mas oferecer um sistema de saúde mais justo aos mais necessitados é absurdo.
Tem horas que realmente não entendo. Os discursos são apelativos, sem sentido lógico, apaixonados, religiosos, preconceituosos e beiram o ridículo. O jeito deve ser mesmo ganhar no grito!
Eu sou muito grossa. Bem, isso eu já sabia, me contaram. Mas em Português não parecia tão mal assim.
É impressionante como a mudança do idioma faz essa diferença toda. Tá bom, a delicadeza é que não faz parte do meu vocabulário. Nunca fez. Verdade seja dita. Mas em Inglês tudo soa mil vezes pior, acredite.
A minha desculpa sempre foi dizer que eu estava sendo direta, sincera, verdadeira, autêntica, seja lá qual for o adjetivo, eu usava para me justificar.
Apesar de ter ido parar na universidade e estudando comunicação/jornalismo, e tenha trabalhado todos esses últimos 15 anos na área, o fato é que me comunico mal, ou pelo menos em Inglês!
Essa coisa de florear e fazer rodeios nunca foi minha praia e tenho apanhado horrores. Do lado de cá é o que eu mais tenho notado. As pessoas tomam o maior cuidado do mundo para se expressar, emitir uma opinião qualquer. Isso quando de fato dizem o que pensam! Ou quando dizem o que de fato pensam!
A real é que estou tendo de me virar para aprender a ter esse cuidado, acabar com a comunicação truncada. No auge dos meus 40 e uns anos, confesso que tenho tido pouca paciência. Mas, daí, é só mais uma desculpa!
O "cara" daqui está na cidade, ou melhor, no estado, desde ontem. Chegou no fim do dia e trouxe na bagagem mulher e filhas. É uma viagem da "Primeira Família" como dizem do lado de cá.
Os Obamas jantaram num restaurante mexicano, onde, em minha opinião, servem a melhor margarita do mundo! Talvez por isso Obama tenha ido.
Hoje foi dia de passear pelo Grand Canyon, uma das oito maravilhas, é o destino de quase cinco milhões de turistas todos os anos. Os que visitavam o parque hoje tiveram de ter paciência e praticamente não viram nada, o acesso foi restrito.
O presidente americano veio a Phoenix para o encontro anual de um grupo de veteranos de guerras estrangeiras (traduzindo mais ou menos). A organização reúne aproximadamente um milhão e meio de membros em todo o país, mas só 13 mil devem receber Obama amanhã. São os vips da corporação.
Mas eu estarei ocupada e tive de recusar o convite!
Apesar de achar algumas coisas aqui no Arizona iguais as do Brasil ou Brasília, minha cidade querida, confesso que outras são completamente diferentes.
De reunião em reunião na grande Phoenix, comecei a reparar os hábitos locais. Aquela coisa maravilhosa de alguém servir água e cafezinho em reunião, não existe do lado de cá.
Executivos, advogados, marqueteiros, seja lá quem for participar da reunião, carrega consigo o próprio café e/ou água. Normalmente em um daqueles copos descartáveis ou garrafas de plástico.
A desatenta e viciada aqui, sempre esperando alguém oferecer um café, terá de aprender a fazer como os americanos fazem. Passam no "drive-thru" antes da reunião!
Viver em comunidade às vezes dá nos nervos. Me lembro de uma certa vizinha em Brasília que soltava o cachorro para caminhar sozinho pela rua fazendo cocô na entrada da garagem dos outros, da minha! Certo dia resolvi coletar as fezes do cachorro alheio. Acumulei um saco de cocô e fui até a casa dela devolver o que não me pertencia.
Agora a situação é um pouco diferente. As casas aqui no Arizona têm uma ruela nos fundos, que dá acesso ao quintal das residências. É o acesso do lixeiro, do leitor da energia elétrica, etc.
Eis que alguns vizinhos resolveram fazer da "alley", a tal ruela, o depósito da vizinhança. Impressionante. Vários objetos podem ser encontrados. Sofás, colchões, cadeiras, par de tênis semi-novos, estantes, roupas, mesas, livros, garrafas e por aí vai.
Da primeira vez que morei aqui nos Estados Unidos, há 17 anos, encontrei uma televisão no lixo. A prática de simplesmente jogar fora, apesar da recessão que passa o país, continua. É o conceito do desperdício a todo vapor.
Vizinhos. Não só fazem da ruela pública e comum a todos nós da vizinhança, um depósito, mas ao fazer isso esbofeteiam a todos com o descaso ao excesso.
Não, não foi abandono. Pelo menos não proposital. Os acontecimentos do último mês mexeram com cada poro meu.
Quase voltei para morar no Brasil, para minha Brasília querida. Para os meus filhos, minha família, minha família de amigos queridos de quem tanto sinto falta.
E como essas decisões são, enquanto duram, eternas, fiquei eternamente, enquanto durou, perturbada.
Me partiu o coração não ter aceitado a oportunidade de voltar pro Brasil e por isso me perdi por uns tempos nas dores do peito que não me saiam da cabeça.
O processo de cura é lento, mas já me sinto um pouco mais forte pra me permitir de novo.
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